terça-feira, 10 de setembro de 2013

Post testemunho: Fuga para o mato?

De 2ª a 6ªf a vida segue. Roupa social, sapato ocasional, janelas que dão para um corredor e na frente um computador (juro que a rima não foi proposital!). E celular, e mp3... tecnologias do mundo moderno. Chegando em casa eu tentava me preparar para o final de semana que tinha pela frente: recebi o convite de uma amiga para acampar em uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) no interior do Rio de Janeiro. O convite veio com adendos, a idéia era sobreviver na mata de forma mais independente possível da estrutura que o camping oferecia. Usaríamos o chuveiro pela água quente, mas de resto tudo seria providenciado por nós. A cozinha só usaríamos em caso de emergência. Uma fuga do dia-a-dia. Eu sempre acampei, desde pequena. Meus pais me levavam para o meio do nada com lugar nenhum, numa praia que nem existe mais. Não lembro ao certo com que freqüência íamos, mas acho que era bem grande pois lembro de várias viagens diferentes. Mas mesmo com as lembranças do mini botijão de gás acoplado ao mini fogão de duas bocas, da mesa dobrável de madeira, dos banhos frios com direito a cobra no caminho e de diversas situações que passamos, o fato é que camping depois de adulta eu só fui em carnaval ou festival de música e, portanto, não fazia a menor idéia de como me preparar para o que viria pela frente.


Na hora de separar a roupa, o básico do básico e pra isso tá tudo certo. A roupa do corpo e mais uma muda para troca. Já na hora de separar o resto... o que é essencial para sobreviver na mata? Como pegar todos os utensílios que usamos diariamente e carregar numa mochila para passar um final de semana no campo sem recorrer à cozinha? Não sei. Ou não sabia até então. Por isso peguei emprestado do irmão uma bolsa térmica e nela coloquei talheres normais, um pano de prato, um pote de manteiga previamente congelada e um pacote de cream cracker para o café da manhã, um pote com sal, açúcar e leite em pó separados em pequenos bolos de papel alumínio, um mini pote com leite de caixinha para os milhares de chás (preciso dizer que o leite azedou e chá nunca foi feito?), um azeite em garrafa e um saco de quinoa em grãos. Num pote grande, os ingredientes para fazer da quinoa um tabule e só.


Viagem agradável, depois de 2 horas chegamos na bela RPPN Reserva Bom Retiro. Propositalmente escolhemos o camping mais afastado da área social e que possui área para fazer fogueira. Montamos as barracas e em seguida começamos a preparar a vida.


Para a fogueira precisávamos de lenha, para lenha precisa-se de uma boa faca. Para quem não tem faca, é bom que tenha amigas que tenham faca. Eu tinha. Primeira atividade do campo em que uma pessoa despreparada fica de fora.


Depois da lenha colhida, hora de se organizar. Um pouco de noção de física e muito conhecimento sobre como se virar, a mesma amiga que tinha faca pegou uma garrafa pet, fez um nó chamado Volta da Moringa que cria uma alça que ela usou para prender a garrafa pet na árvore e com sua faca fez um pequeno furo na base da garrafa e em menos de 2 minutos nós tínhamos uma torneira completamente funcional. Fiquei literalmente em êxtase!


Em seguida era hora da comida. Você já deve ter se perguntado como uma pessoa pode fazer comida só com os ingredientes e sem o material básico: fogo. Eu te digo: com amigas que levem o fogo. Segunda atividade do campo em que uma pessoa despreparada fica de fora. Elas levaram um mini botijão de gás moderno e com boca própria. E mini panelas. E mini pratos e mini talheres. Com isso consegui cozinhar minha quinoa e elas fizeram um fricassé de frango. Sério.


Ao anoitecer, hora da fogueira. A lenha já estava separada e devidamente coberta para não pegar sereno, o que a deixaria úmida, impossível de queimar. Caliman utilizou folhas secas para ajudar a acender a fogueira e em alguns minutos tínhamos um belo fogo para nos aquecer. Para fazer o churrasquinho ela pegou pedaços de um tipo de madeira que não deixa farpas, limpou e afiou a ponta com sua faca, e deu um jeito de prender no chão. Isso com o vinho e o céu estrelado garantiram a diversão da noite!


E o resto é história. Entre passeios no mato avistando bichos que nem sabemos que existem, banhos de rio de água cristalina, tardes passadas sem pressa ao som da brisa e da cachoeira ao fundo, amanhecer ao canto de belos pássaros, ter um casal de joão-de-barro como vizinhos, passar a noite conversando com amigas queridas embaixo de um céu super estrelado daqueles que não se vê em cidade grande... “fugir” para o mato não é simplesmente um momento de pausa na correria do dia-a-dia, é retornar à essência do ser humano, à convivência com o próximo e com a natureza que infelizmente destruímos cada dia mais.